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A alta densidade mamária presente em metade das mulheres aumenta o risco de câncer de mama

Nesses casos, a mamografia associada à ultrassonografia ou à ressonância magnética permite identificar lesões iniciais, afirma a médica Ellyete Canella, coordenadora do Centro de Mama do Hospital Quinta D'Or.

Dinael Monteiro
Por: Dinael Monteiro
28/10/2024 às 16h56
A alta densidade mamária presente em metade das mulheres aumenta o risco de câncer de mama
Imagem: Divulgação

O câncer é uma doença multifatorial, que pode ser provocada por causas externas e internas1. Cerca de 80% dos casos de enfermidade ocorrem em razão de fatores externos, como tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, consumo de alimentos ultraprocessados, sedentarismo e obesidade. Os outros 20% são consequência de causas internas, como problemas hormonais, condições imunológicas e mutações genéticas. Um dos fatores mais importantes que contribuem para o surgimento do câncer de mama é a alta densidade mamária, presente em cerca de metade da população feminina2.

As mamas são formadas por glândulas (responsáveis ​​pela lactação), tecido fibroso e gordura. A mama densa é caracterizada por grande quantidade de tecido glandular e pouca gordura. “Esse tipo de mama aumenta o risco de câncer não só pela quantidade maior de glândula, mas pela dificuldade que o padrão denso causa na identificação das lesões”, explica a médica radiologista Ellyete Canella, coordenadora do Centro de Mama do Hospital Quinta D'Or, membro da Comissão de Qualidade em Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e mestre em Radiodiagnóstico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mulheres com mamas densas têm risco aumentado de câncer pela quantidade maior de glândula e a dificuldade em identificar as lesões

A densidade das mamas é um dos aspectos avaliados na mamografia e está descrita nos laudos médicos. Na imagem, o tecido fibroso aparece branco e o adiposo, escuro. Essa característica das mamas é definida em quatro padrões estabelecidos pelo sistema BI-RADS (Breast Imaging Reporting and Data System). A padronização engloba quatro letras – de A a D –, sendo que as duas últimas indicam alta e extrema densidade. Um estudo canadense3 mostrou que mulheres com densidade mamária extrema apresentam risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver câncer, em comparação com pacientes com padrão A.

Favorecendo o diagnóstico precoce

A prevenção representa um conjunto de ações que evitam o aparecimento de uma doença. Embora não seja possível evitar o surgimento do câncer de mama, algumas medidas são consideradas de alto valor na prevenção, como alimentação balanceada, prática regular de atividade física e controle de peso. Além disso, não fumar e consumir cafeína e bebidas alcoólicas com moderação são hábitos recomendados para se evitar qualquer doença.

As estratégias de rastreamento (ou detecção precoce) têm por objetivo a identificação de lesões pequenas, não palpáveis. O Ministério da Saúde estabelece que o rastreamento, por meio da mamografia, pode ser considerado para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.

Já o documento conjunto assinado no ano passado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomenda a mamografia anual para mulheres entre 40 e 74 anos. A partir dessa idade, a estratégia deve ser aplicada às pacientes com expectativa de vida superior a sete anos.

De preferência, exames de rastreio devem ser realizados em centros de atendimento integral de radiologia mamária.

Segundo a médica Ellyete Canella, recomenda-se às mulheres com mamas densas associar a mamografia a exames que permitem "enxergar através da densidade", tais como a ultrassonografia e a ressonância magnética. “Combinar exames é importante porque a mamografia falha em cerca de 25% dos casos de mamas densas, já que uma parte glandular muito exuberante pode esconder um nódulo”, alerta.

O especialista ressalta que, de preferência, os exames devem ser realizados em centros especializados no atendimento integral em radiologia mamária. “Em geral, a paciente faz mamografia e ultrassonografia em clínicas diferentes, e os médicos interpretadores não têm acesso às imagens de cada exame, o que limita a capacidade diagnóstica. Fazer os dois exames juntos e com o mesmo médico melhora o desempenho dos métodos e evita falso-positivos”, argumenta.

Sempre que possível, a ressonância magnética pode ser utilizada em substituição à ultrassonografia em mulheres com riscos intermediário e alto de desenvolver câncer de mama. No primeiro grupo, enquadram-se as pacientes com alta densidade das mamas. Já o segundo inclui pacientes com histórico familiar (parentes de primeiro grau com câncer de mama na pré-menopausa), portadores de mutações genéticas que predispõem a esse tipo de câncer e pacientes que fizeram radioterapia de transplante.

Em mulheres com mama densa ou com alto risco de câncer de mama, a tomossíntese pode ser disponibilizada na realização da mamografia, quando houver possibilidade. A tomossíntese é um software, resultado do desenvolvimento da mamografia digital, que gera imagens da mama em “fatias” de um milímetro, melhorando o desempenho do método na detecção precoce de lesões iniciais.

Referências

  1. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Disponível em: Link
  2. Nazari, Shayan Shaghayeq; Mukherjee, Pinku. An overview of mammographic density and its association with breast cancer. Breast Cancer, v. 25, n. 3, p. 259-267, 2018. Disponível em: Link 
  3. Moran, Olivia et al. Predictors of mammographic density among women with a strong family history of breast cancer. Bmc Cancer, v. 19, n. 1, p. 1-12, 26 . 2019. Disponível em: Link
  4. Linei Augusta Brolini Delle Urban et al. Recomendações do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia para o rastreamento do câncer de mama no Brasil. Radiol Bras. 2023; 56(4):207–214 
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