Um projeto de alto impacto socioambiental, desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), foi contemplado com recursos do edital Proinfra de Desenvolvimento Regional, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A proposta, intitulada “Biorrefinaria Amazônica: Valorização de Resíduos Florestais para Conversão em Nanomateriais”, receberá um investimento de R$ 7,9 milhões para desenvolver soluções tecnológicas baseadas no aproveitamento de resíduos florestais, com foco em inovação, sustentabilidade e economia circular.
O projeto aposta no uso de resíduos agroflorestais da Amazônia como matéria-prima para a produção de nanomateriais biodegradáveis, como nanofibrilas de celulose, nanopartículas de lignina e nanocarvão ativado. Esses materiais têm aplicações diversas e de alto valor agregado: podem ser usados na fabricação de bioplásticos, embalagens alimentícias sustentáveis, tecidos com propriedades antibacterianas, adesivos ecológicos, entre outros produtos voltados tanto ao cotidiano quanto à indústria.
Ciência aplicada com impacto regional e global
Segundo o coordenador do projeto, professor Dr. Matheus Cordazzo Dias, do curso de Engenharia Florestal da Ueap, a iniciativa começa com testes em escala laboratorial, mas poderá avançar para produção industrial. “Queremos transformar aquilo que seria descartado em oportunidades econômicas e tecnológicas. A estrutura dos nanomateriais garante resistência e leveza, podendo substituir derivados do petróleo em embalagens e produtos duráveis. É um passo estratégico na transição para uma economia mais verde”, explicou.
Além do foco técnico, o projeto apresenta forte engajamento ambiental. Cada resíduo florestal transformado em bioproduto representa uma árvore a menos explorada para fins industriais. “Estamos falando em redução da pressão sobre os recursos madeireiros e no uso inteligente dos resíduos de outras cadeias produtivas. Isso contribui diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, destaca a professora Dr. Carla Priscilla Távora Cabral, também integrante da equipe.
Entre os objetivos centrais da pesquisa estão: desenvolver tratamentos para diferentes tipos de fibras florestais, produzir nanomateriais com alta qualidade e criar bionanocompósitos sustentáveis que possam ser aplicados comercialmente. Além disso, será instalado o primeiro Centro Multiusuário de Apoio à Pesquisa do estado, com laboratórios especializados em Biorrefinaria, Nanotecnologia de Recursos Florestais e Análises Químicas, com foco na formação de novos cientistas.
Para a professora Dr. Monize Martins da Silva, da Licenciatura em Química, essa estrutura representa um divisor de águas na ciência produzida no Amapá. “Teremos uma base sólida para gerar conhecimento, desenvolver tecnologias e formar profissionais capacitados para enfrentar os desafios ambientais e econômicos da nossa região. A Finep entra como parceira estratégica nesse processo de fortalecimento da infraestrutura científica e ampliação das redes de pesquisa”, enfatizou.
O projeto reforça o protagonismo da Ueap na pesquisa aplicada com foco regional e impacto global, ao mesmo tempo em que estimula a bioeconomia, valoriza saberes locais e impulsiona o Amapá como polo de ciência, tecnologia e inovação sustentável na Amazônia.